29/04/2020
– Profª Érica Chichera- Língua Portuguesa – 9º B e C
Leitura
do conto + Atividades (CONTINUAÇÃO DA ATIVIDADE ANTERIOR 27/04/2020)
Peço que realize a leitura do
conto “A cartomante” de Machado de
Assis”.
O endereço eletrônico disponível.
A
CARTOMANTE
HAMLET observa a Horácio que há mais
causas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação
que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869,
quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença
é que o fazia por outras palavras.
- Ria, ria. Os homens são assim; não
acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da
consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as
cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que
sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me
que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade.
- Errou! interrompeu Camilo, rindo.
- Não diga isso, Camilo. Se você
soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria
de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou
para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam
de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante
era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por
essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois.
- Qual saber! tive muita cautela, ao
entrar na casa.
- Onde é a casa?
- Aqui perto, na Rua da Guarda Velha;
não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
- Tu crês deveras nessas cousas?
perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que
traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e
verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a
cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila
e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas
reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e
ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a
mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair
toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo
depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não
poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo
mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante
do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda
mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas
via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que
a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro
era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta
desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo
desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes,
uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros
eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou
no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai
morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego
público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama
formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado.
Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
- O senhor? exclamou Rita,
estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do
senhor. Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois,
Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas
do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina
e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela
vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o
parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e
prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a
natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem
intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe
intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi,
os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos
sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o
faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o
soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a
sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita.
Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo
em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo
ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; - ela mal, - ele, para lhe
ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os
olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam
antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia,
fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita
apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde
ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras
vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha
caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada,
fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas
que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas
já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo,
fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou
atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de
mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não
tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços
dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais
que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima
de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma
carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era
sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a
rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo
respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia.
As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que
entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os
obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita,
desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira
causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a
confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda
algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão
apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum
pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas,
formulou este pensamento: - a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem
papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais
sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então
sem remédio. Rita concordou que era possível.
- Bem, disse ela; eu levo os
sobrescritos para comparar a letra com as das cartas que lá aparecerem; se
alguma for igual, guardo-a e rasgo-a..
Nenhuma apareceu; mas daí a algum
tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado.
Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião
dela é que Camilo devia tomar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que
lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia;
aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais
valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios
de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na
repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa
casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu
logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por
que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou
ilusão, afigurou-se lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia
da véspera.
- Vem já, já, à nossa casa; preciso
falar-te sem demora, - repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da
orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando da
pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para
matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso
repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a
casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou
nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe
cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria
pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A
mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso.
Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos,
fixas; ou então, - o que era ainda pior, - eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a
própria voz de Vilela. "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem
demora." Ditas assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e
ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção
crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a
crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado,
considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo
depois rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na
direção do Largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou
seguir a trote largo.
"Quanto antes, melhor, pensou
ele; não posso estar assim."
Mas o mesmo trote do cavalo veio
agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o
perigo. Quase no fim da Rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua
estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo,
e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do
tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca
ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas,
quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da
rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para
não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das
camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as
superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir
por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para
fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a
cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas;
desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu
outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua,
gritavam os homens, safando a carroça:
- Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o
obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do
marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem, já,
já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele.
As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu
opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe
repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de
Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que
sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da
porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu
a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas
ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia
de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes
latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher;
era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali
subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em
cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado
dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes
aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da
mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a
pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou
um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava,
rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma
mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e
agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz
aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto
afirmativo.
- E quer saber, continuou ela, se lhe
acontecerá alguma cousa ou não...
- A mim e a ela, explicou vivamente
ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só
que esperasse. Rápido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos
dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma,
duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela,
curioso e ansioso.
- As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a
uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada
aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante,
era indispensável muita cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor
que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante
acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
- A senhora restituiu-me a paz ao
espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da
cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
- Vá, disse ela; vá, ragazzo
innamorato...
E de pé, com o dedo indicador,
tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse a mão da própria sibila, e
levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com
passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando
duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a
mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como
pagasse; ignorava o preço.
- Passas custam dinheiro, disse ele
afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
- Pergunte ao seu coração, respondeu
ela.
Camilo tirou uma nota de dez
mil-réis, e deu-lhe. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois
mil-réis.
- Vejo bem que o senhor gosta muito
dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá, tranquilo. Olhe a escada,
é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota
na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo
despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a
cartomante, alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola.
Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote
largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as
outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais.
Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta
de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe
descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em
demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
- Vamos, vamos depressa, repetia ele
ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao
amigo, engenhou qualquer causa; parece que formou também o plano de aproveitar
o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos,
reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o
objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não
adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e
continuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério
empolgava-o com as unhas de ferro. s vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo
vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação:
- Vá, vá, ragazzo inflamorato; e no
fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os
elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e
impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao
passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até
onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do
futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela.
Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava
silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta
abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
- Desculpa, não pude vir mais cedo;
que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as
feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando,
Camilo não pôde sufocar um grito de terror: - ao fundo sobre o canapé, estava
Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de
revólver, estirou-o morto no chão.
SOBRE A LEITURA DO CONTO
“A CARTOMANTE”, RESPONDA AS QUESTÕES ABAIXO: (ESTA ATIVIDADE FAÇA EM FOLHA PARA ENTREGAR, MARQUE DATA, NOME, NÚMERO E SÉRIE PARA SER ENTREGUE NO RETORNO DAS AULAS)
DICA: FAÇA UMA PASTA COM MINHAS ATIVIDADES OU COLOQUE EM UM SAQUINHO.
1)
Quais são os principais fatos ocorridos na
história?
2)
O conto se passa em que época?
3)
O título do texto é “A cartomante”, porém, quem
são as personagens protagonistas? Porque o autor teria escolhido uma personagem
coadjuvante para compor o título do texto?
4)
O que vocês acharam do desfecho? Quais eram suas
expectativas para o final? Vocês ficaram surpresos?
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